sexta-feira, 11 de abril de 2008

Amizade

« L`amitié est une religion sans Dieu ni jugement dernier. Sans diable non plus. Une religion qui n’est pas étrangère à l’amour. Mais un amour où la guerre et la haine sont proscrites, où le silence est possible. Ce pourrait être l’état idéal de l’existence. Un état apaisant. Un lien nécessaire et rare. »


Caiu sem querer na minha mão esse tal de Tahar Ben Jelloun. Sabe aquela coisa de “entrega pra fulano pra mim”?! Não resisti e comecei a ler! E aaaai, não consegui parar! O tal do marroquino é muito bom! Leitura fácil, mais que faz pensar. “(...) Enfin, les rares fois où nos avons abordé les problèmes de l’écriture, il m’a donné un seul conseil : en écrivant pense au lecteur, sois simple. Il m’appris que la simplicité était le signe de la maturité. » E eu concordo, a simplicidade pode sim ser um sinal de maturidade. E com essa maturidade esse escritor que ganhou o Prix Goncourt (que nem sempre agrada...assim como o Oscar – só que de literatura, claro) escreveu um texto lindo sobre as amizades ( ou ilusões) que teve ao longo da vida.


E fiquei eu pensando nas pessoas que passam pela minha vida e que por algum momento eu chamei de amigos. Como Ben Jalloun mesmo disse, a palavra amizade foi banalizada. Apresentamos pessoas conhecidas como amigos e quando vamos ver, descobrimos que são simplesmente colegas que achamos simpáticos. Acabamos chamando de amizade relações superficiais, leves e sem consequências. No entanto, algumas valem a pena...menos ou mais. Certas pessoas podem fazer a diferença nem que seja por alguns minutos de papo na balada enquanto você se perdeu dos amigos.


Posso dizer que tenho amigos sensacionais. Incrivelmente diferentes. Apaixonantes e irritantes ao mesmo tempo.


Conheci a M quando ainda brincar era nosso prazer e obrigação, porque o resto os outros faziam pela gente (até o banho era só aquele monte de brinquedo na água!). Acho que foi amizade à primeira vista. O tempo foi passando e eu não vivia mais sem ela. Era M de segunda a sexta na escola ( e depois dela), no sábado e no domingo na casa de uma ou da outra. Ela me mostrou que era fácil andar de ônibus em Santos e que valia a pena pegar o 19 e ir pra casa dela quando meus pais não pudessem me levar. Valia a pena ficar sem fazer nada com ela, só rindo e falando besteira. A gente se dava muito bem, pensava parecido. Estudávamos para todas as provas, fazíamos todos os trabalhos (juntas, porque dava certo...como eu não consigo mais direito fazer acontecer com outras pessoas!) e conhecemos Monet juntas, no meio das brincadeiras e das madrugadas conversando. Ela acabava dormindo, mas isso nunca me incomodou. Ah, a gente também adorava passar trote juntas. Hooooras de trote e dor de barriga de tanta risada. Ela também tinha casa na praia. E foi lá, com a família dela dormindo no mesmo quarto que a gente que descobrimos que eu falo (berro, converso, dou risada...) durante a noite. O pai dela, coitado, achou que tinha uma barata no quarto e foi buscar até veneno. Ela era boa, generosa e sabia perdoar (coisa que eu, sempre muito bravinha, não conseguia fazer...e por isso amava essa menina mais ainda!) Quando a gente começou a se interessar por meninos ( e não mais pelo Leonardo Di Capprio!), fazíamos planos, queríamos casar com o tal...e no dia seguinte (ou no próximo domingo no Mc Donalds encontrando gente da Internet).... nome novo na agenda (diário)! O tempo passou rápido, deixamos de estudar juntas e nos tornamos pessoas diferentes. Brincar agora, só com o filho dela!


Nas férias entre o fim do ginásio e a entrada no colegial, reencontrei a C. A gente tinha feito patinação juntas e nunca tínhamos nos aproximado muito, mas eu lembrava que ela tinha duas irmãs. Uma era morena igualzinha a ela, e a outra era loira, diferente. A gente também já tinha jogado handball juntas, mas em times opostos. E eu lembro que ela jogava de keds! Hoje entendo que a C não tinha mesmo a ver com o handball. Ela sempre foi uma bonequinha, meiguinha, educada. E ela era parecida com a Alanis Morissette. E eu AMAVA a Alanis (mais as músicas, pq a cantora em si sempre foi meio xaropona, neh:!). E essas férias foram intensas, C todo dia! As duas estavam passando por um momento com leves decepções ( com aquelas colegas que, trouxas, passamos a chamar de amigas!) e foi um reencontro muito gostoso, muito alegre, muito saudável. Ela não sabe, mas foi ela que me ensinou a falar “eu te amo” para as amigas. Com ela, é sempre assim que a gente se despede nos emails, nas mensagens! E eu acho mais gostoso ainda porque ela não fala isso pra quase ninguém. Ela é uma pessoa muito peculiar. A gente brinca que ela fica sempre no mundinho dela...e quando sai, não entende a piada e ainda pergunta se peixe pisca! Tem como não gostar? Fora que uma vez, ela me escreveu um email enorme contando que gostava de um menino ( e toda aquela animação adolescente!) e....esqueceu de escrever de quem era! Ai, isso é tão C!!!!!! E eu gosto tanto dela....


A minha mãe conheceu a melhor amiga dela na faculdade. Virou minha madrinha. E era isso que eu ouvia quando ficava triste com alguma amiga da escola (sim, porque criança custa a enxergar falsidade, neh:!). E quando eu entrei na faculdade, encontrei uma pessoa que usava Swatch que nem eu e que tinha feito intercâmbio pra onde eu pensava em fazer. Amizade à primeira vista, sem dúvida também! A é aquela pessoa que você vai descobrindo e vai se apaixonando. E entre nós, há uma química forte. A gente simplesmente se entende. Olhamos uma pra outra e damos risada. Fazemos caras, bocas e inventamos palavras. Ela topou começar a escrever um dicionário com as besteiras que a gente inventa...que não saiu do papel, claro. Porque também somos preguiçosas juntas. Adoramos ir ao cinema, alugar vídeo e ler. E fazemos isso muito juntas no final de semana. Ela não come carne e quando eu digo pra ela que acho isso um saco, ela diz: “ e você, que não come milho?” E, como sempre, caímos na gargalhada. Também adoramos falar mal dos outros. Aliás, de quase todos. E também brigamos juntas com quem pisa no nosso calo. E depois comentamos quando encontramos as odiadas e alguém vira a cara. Além disso, ela tem uma irmã que não parece com ela, mas sim comigo! E assim, elas me acolhem na casa delas com carinho de família mesmo. É do tipo de gente que te dá tanto ( carinho, comida, caronas...), que você não consegue dar de volta e aceita porque sabe que é honestamente de coração. E a gente se dá tão bem que trocamos nossa formatura por uma viagem juntas, que aliás vai acontecer mês que vem e vai ser simplesmente incrível!!!!!!!



Resolvi vir pra Lyon e pronto. Não conhecia ninguém que vinha e essa era a última das minhas preocupações. Ainda bem, porque ía ser uma perda de tempo e de energia. Acabei encontrando antes mesmo de vir gente que viria também. E vamos ver no que dá, né?! Uma das meninas que vinha me disse que a R também estudaria em Lyon. A R era da Letras e eu fui ver quem era. “Oi, você também vai pra Lyon?” E a resposta “Aham. Allons-y!” Veio com um sorriso (como agora eu sei que não poderia deixar de ser), mas foi só isso...ela virou as costas e foi embora. Como assim???? Vim pra Lyon sem fazer questão de encontrar essa tal de R. Mas um dia nos encontramos do outro lado do Atlântico, morando na mesma residência. E tudo começou a mudar. E começamos a nos ver todo dia, e almoçar e jantar juntas , e conversar bastante...e rir bastante! Descobri que rimos muito, nós duas, de quase tudo. Até das tragédias, nossas e dos outros também. A gente se entende, mas não concorda muito. Já virou até piada, mas a verdade é que quanto à música, cinema, literatura e agora métodos de ensino de francês....a gente simplesmente não concorda em nada! Até facilita porque se eu vou dar um presente pra ela, vou achar aquele livro que eu odieiiii e dou junto com aquele cd de música que eu detestaria ganhar! A gente se conhece a pouco tempo e ela não se abre muito fácil. Agora eu já sei como os pais dela se conheceram, mas ainda acho que temos que comer muitos risotos (dela, claro!) pra muita conversa rolar. E se o papo for alegre, muito que bem. Se for triste, ela não vai embora. Aliás, precisando, ela sai do supermercado correndo e chega na sua casa com vinho e brownie pra te ouvir e, se possível, te alegrar. É, essa R me enganou direitinho dando uma de metida ( que agora eu sei que era somente apressada!). E pra terminar com chave de ouro, ela escreve lindamente! Será que ela não gosta do que ela escreve??????



Lyon também me apresentou a P, que é uma jornalista e tanto e que fala “topo muito” quando eu to achando que vou ter que ir sozinha. A gente adora trocar dicas, notícias que a gente leu, fofocas, blogs. E ela conhece um monte de coisa (principalmente música – ela fez nosso grupo ganhar um quizz!!!!) e sempre acrescenta alguma coisa no meu dia. Ela tira mais foto que eu e, se deixar, fica se divertindo na auto-foto durante horas! Estuda mais que todo mundo, e eu acho que ela não tem noção do quanto sabe e do quanto pode. E do quanto já É! Mas essa é uma das razões pelas quais eu admiro tanto a P! E viajar com ela é tão mais fácil, porque ela tem noção e se orienta bem pelo mapa! Ela é tudo isso e também é meiga, gosta dos sinos da Fourvière e me disse uma vez ( e eu nunca que vou me esquecer!) que, além desses sinos, eu (euzinha!) fui uma das melhores surpresas de Lyon. Posso com uma dessa?? Além disso ela é a rainha da capirinha e faz um brigadeiro delicioso. Fora que foi ela que abriu a porta prum senhor idoso (o famoso “senil”! – alooou, desssculpa, aloooou) que ficou no nosso albergue em Lisboa quando ele foi ao banheiro durante a noite e esqueceu a chave dentro do quarto! Ah, e foi ela tbm que viu esse mesmo senhor –preparem-se, é disgusting:!- coçar o seu idoso bumbum quando estávamos dentro do quarto com ele!!!! Ela disse que vai querer saber de mim depois que essa viagem acabar. Eu já respondi que ela não tem escolha! Fora que a família dela abriu uma pastelaria em Sp..hummm! É P, ninguém mandou me dar um abraço verdadeiro, agora grudei!